segunda-feira, 29 de março de 2010

pela janela de djanira

Em 1997, na Universidade Federal de Uberlândia, por intermédio de uma amiga centopéia, conheci um capiau como eu de uma família capiau como a minha. Eu de Araguari, ele de Ibiá. Nosso encontro de afinidades mineiras do interior e de interioridades musicais abriu para mim uma janela de possibilidade estética que me tornou capaz de enxergar minha inventividade e assumir-me artista. Enquanto eu ajuntava uma meninada para cantar o nosso lugar, ele me ajudava com maestria a dar o tom da música que fazíamos juntos.

Não demorou e ele trouxe sua mãe para nos presentear. Com ela, a poesia, sua lente de enxergar o mundo. De um lado, as parcerias entre mãe e filho proporcionaram ao EMCANTAR e ao mundo canções como Prosa de Passarim, Cadê?, Cantiga de Encantar, Dentro, Versim, Como Surgiu a Noite entre outras preciosidades. De outro, a educadora e poeta nos ensinou que um poeminho é uma forma de engravidar-se.

Assim, desde que me descobri grávido pela primeira vez, por volta de 2002, “a torneirinha abriu” e ainda não fechou. Daí, não posso deixar de contar essa história sem dizer da minha eterna admiração e gratidão à minha parteira Cleusa Bernardes e ao meu part(c)eiro Ênio Bernardes.

E é com muita alegria que tenho o prazer e a honra de estar com eles na próxima quinta, no lançamento do livro da tia Cleusinha, Djanira na Janela e Outros Poemas. Para ela, um dia fiz um poeminho sobre a janela que ela me abriu para ver e para ser a gravidez de um poema.

a vontade aparece
a euforia aflora
as palavras palpitam
e o poeminha foge

faz de conta que vem
e se esconde
não avisa se volta
ou vai longe
brincando atrás do silêncio

quando menos se espera
surpreende
num verso que traz outro verso
e mais outro
e mais outro
e o poeminha
nasce

às vezes discreto
calado na ponta do lápis
— contido no pensamento —
noutras em festa
rola da ponta da língua
como água de cachoeira

cartaz_djanira_final

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