V A G A M E N T O

rito de passagem

vinte e cinco de dezembro do outro ano ingressei com a famiagem no destino que a mãe não abre mão, respirar os ares dos mares (onde ainda me desencontro). o mor motivo meu: desfrutar dos meus pais, servindo na medida das minhas capacidades. mas, para mim mesmo, lá no fundo, a grande sentença: acertar as contas com a consciência, estar só para arrumar a casa e as coisas. parar para seguir viagem sem a ilusão de que as incertezas passarão. uma aposta pode ser promessa de sobrevivência, mesmo que não seja preciso mudar de ares para se desestar só. só é uma condição humana de que ninguém foge, porção de pessoa cercada de gente por todos os lados.

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para simbolizar a passagem, por que precisamos de criar significados, fiz uma excêntrica escolha. para quem nunca encarou dormir numa barraca, decidi passar a noite de ano novo acampado debaixo de um pé-de-jaca. não caiu nenhuma em cima da barraca, mas depois dos fogos despencou a chuva, uma chuva de vento tão persistente quanto minha insistência em permanecer bravamente ali, cercado pelos úmidos tormentos, uivos, sussurros e assovios sem distinguir de quem se tratava, Éolo, Bóreas ou Zéfiro. encontrei o naufrágio às seis da manhã, quando tudo era água e já se tratava de uma questão de inteligência. debaixo dos dedos da Aurora, minha existência líquida escorreu dali para lugar seco à procura do "diabo na rua, no meio do redemoinho..."

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daí em diante, por mais de vinte e quatro horas a água insistiu em cair e, ao seu lado, minha perseverança no desbravamento do Sertão de Guimarães que nem grosa, quando é necessário debruçar-se sobre a obra para lapidar o mais belo fazer.

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se é vero que a bonança sucede a tempestade, que os idos vividos assegurem os símbolos de que preciso para ser mais. fé na vida e paz na estrada, aprendendo a entender a coceira de escrever para coçar o Tempo.

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