e s p i r a l d a a r t e
e s p i r i t u a l i z a r t e
precisamos registrar um recente achado em nossos estudos pesquisas e reflexões sobre as formas de expressão encontradas em manifestações de grupos humanos classificadas como cultura popular. não discordamos totalmente do termo classificador utilizado pelas ciências antropológicas. mas como já dissemos em outros de nossos escritos sobre o caráter da palavra neste sítio arrendado: com o nome não se tem compromisso, seja por lapso ou vício. portanto optamos pela precisão do termo ao nosso modo e consideramos mais adequado para os exemplos a seguir arte popular. nesse caso, de excelente qualidade para um observador mais atento e desprovido de um possível etnocentrismo enrustido.
vamos ao que interessa:
Coco Raízes de Arcoverde (PE)
"Criado por Lula Calixto, o grupo Coco Raízes de Arcoverde mantém viva uma tradição de coco até então pouco conhecida fora de sua região. A variante deste ritmo nordestino praticada pelos arcoverdenses (cidade que fica no agreste, mas que é considerada a porta do Sertão pernambucano) tem muito do indígena. É chamada também de coco de trupé, porque os músicos, além dos instrumentos tradicionais de percussão, valem-se também de pesados tamancos de madeira, com os quais batem forte no chão. A energia do grupo fez com que ele se tornasse bastante requisitado para apresentações no Recife – e daí para outros estados – em seguida para turnês internacionais. O grupo é formado por membros da família de Lula Calixto e amigos. O Coco Raízes de Arcoverde gravou dois discos, Raízes de Arcoverde, e Godê Pavão, além de participar de várias coletâneas, no Brasil e no Exterior."
detalhe: este grupo é uma manifestação de cultura popular sem caráter religioso
Festa de Congado (MG)
para além da cultura popular, que nesse sentido a nosso ver soa como um balaio de gatos coloridos, percebemos que na perspectiva de um olhar voltado para a observação do fenômeno em seus aspectos estéticos, os grupos que expressam-se por esses ritmos, incluindo o samba do Coco Raízes de Arcoverde, são muito semelhantes entre si na imagem, sonoridade e tecitura de suas batidas, melodias, vozes, movimentos, gestos, trajes, adereços etcétera e tal.
em nossa trajetória pelo assunto ainda não vimos alguém tomar ou denominar essas manifestações por arte, mas por cultura popular. o vagante raciocínio aqui posto nos faz chegar ao ponto G da questão: desejamos lançar um olhar especial para o conjunto interpretando-as como arte popular. cada uma única em si mesma.
no entanto há um detalhe. os grupos de congado fazem parte de uma manifestação popular considerada religiosa.
indo ainda um pouco mais fundo nas lenhas da fogueira das polemizações nos atrevemos a ir no X das profundidades sem fim das discussões teórico-conceituais, legítimas sem dúvida, afinal somos criaturas forjadas à imagem e semelhança da razão iluminista. mas sem mais volteios embriagantes desse nosso vagante e sofístico estilo literário, sugerimos que a igreja reconheça seus filhos bastardos! isso mesmo, não os grupos em si, mas sua arte! de um certo prisma eclesiástico, aquilo que não é religioso é tido como profano. nesse caso, o samba de coco do grupo Raízes de Arcoverde pode ser visto, segundo esse raciocínio, como uma arte popular profana, embora não reconhecida formalmente como arte, mas genericamente como uma tradição de cultura popular. e se as outras manifestações, dos grupos tradicionais da Festa de Congado, semelhantes ao samba de coco em seus elementos estéticos, também caracterizam-se como arte popular, com a singularidade de carregarem em si o sincretismo religioso, por que não poderíamos então denominá-las uma forma de arte popular sacra?
Nenhum comentário:
Postar um comentário